Sábado resolvi saltar da cama com a cegueira de ir andar de bicicleta. Fui ver o tempo, o céu estava limpo e por isso, bom para ir para a praia. Entro no elevador com a bicicleta e deparei-me logo com um problema: a roda da frente estava vazia. Voltei a entrar em casa e enchi com a bomba (eu tenho de tudo). Bom, enchi, mas não estive para encher até ficar com dor no braço. Enchi só, nada de exageros.
Abandono o prédio montado na bicicleta. Ao fim de 10 pedaladas, 15, vá, e dou conta que deveria ter enchido um pouco mais. Resolvi ir a pedalar até à bomba de gasolina mais perto. Ao fim de outras 15 pedaladas é que vi que não dava. Aquilo não desenvolvia. Era preciso que a bomba viesse até mim já que eu nem morto voltaria atrás, a casa, para buscá-la. Afinal de contas já estava uns 50 metros afastado. Parado, ao lado da bicicleta, enquanto pensava em como resolver isto e vislumbro uma oficina do outro lado da rua. Lá vou eu directo.
- Bom dia! Podia-me encher o pneu da bicicleta se faz favor? O senhor encheu.
- Olhe e por acaso não tem descansos a vender? O senhor tinha, esburacou-me a bicicleta com o berbequim e depois vem, com a maior cara-de-pau, dizer que não conseguia colocar.
- Podia-me meter o volante mais alto porque eu não tenho nenhuma chave de fendas em casa para fazer? O senhor subiu.
- Já agora, metia também o selim para cima??? O senhor meteu…
- Quanto é???? (eu sem carteira, só com uma nota de 10€ no bolso das calças, desvairado com a possível resposta do senhor. Não é nada, disse ele. Suspirei de alívio….
Meti-me à estrada!
Uma subida que nunca mais acabava. Apesar de ainda conseguir ver a minha casa atrás, estava decidido em continuar e enfrentar as dificuldades da vida, sem recuar. Metia uma mudança, tirava, metia outra, voltava a trocar e sei lá mais o que fazia na expectativa que a bicicleta se pusesse a andar dali o mais rápido possível e a sacana nada. Com os bofes de fora cheguei a um sítio plano. Pedalei, pedalei e chego a uma avenida com duas faixas, mas com um separador central. Para onde queria eu ir? Precisamente para o lado oposto ao separador. Pronto, lá tive eu de andar com a bicicleta na mão a atravessar a estrada numa correria, não fosse aparecer algum carro, subir o muro, voltar a descer e meter-me outra vez na estrada, no sentido correcto. Avistei uma recta que nunca mais acabava e que eu costumo fazer de carro quase todos os dias e pensei que ia finalmente desfrutar do passeio. Foi sol de pouca dura! Em menos de nada, vejo-me eu a braços outra vez com a sensação de me estarem a puxar para trás. Com uma dor nas pernas a cada pedalada que só visto. Eu sei lá quantas vezes alterei as mudanças. Era um horror na mesma. Eu colocava uma, aquilo parecia que resolvia o problema, mas era uma ilusão, tinha de pedalar na mesma, com força, para aquela porra andar… O que é que julgam? Pois! Um sofrimento! O que de carro parece a recta mais plana que pode haver, de bicicleta é ao contrário. Uma subida que mais parece ter uma inclinação de 60 graus. Com isto tudo ainda acrescia outro problema. Não se julgue que era só este. E os carros a passar ao lado com uma velocidade que parece que nos levam atrás?? E os nervos que um gajo apanha ao sentir que temos atrás um carro a andar devagarinho para nos conseguir ultrapassar? Uma pessoa, para não incomodar e não empatar o carro que vai atrás, dá tudo por tudo, pedala até mais não. Felizmente não me pareceu nenhum automobilista como eu que é bem capaz de apitar para que os ciclistas saiam da frente. Vá lá, tive sorte. Ao fim de centenas de metros, finalmente encontro uma estação de lavagem automática de carros. Um oásis, pensei. Parei e mais parecia um camelo a beber, de uma só vez, litros e mais litros de água. A camisola de lã já eu tinha tirado e atado à cintura. Um calooooooooooor pior que o dos dias mais quentes de Agosto. Depois continuei, não se pense que voltei para trás. Nada disso. Se o objectivo era ir à praia, era para a praia que se continuava. Depois adorei. Apareceu uma descida. Como eu gosto de andar de bicicleta em descidas. Gosto, pronto! Num ápice a descida terminou e voltou a erguer-se diante dos meus olhos outra subida que, de tão inclinada, parecia uma encosta do monte Everest. Aqui tive mesmo de sair da bicicleta. É que não dava mesmo. Ó pá, não dava!!! Subi o passeio e fiz o percurso a pé. Depois voltei a pedalar e cheguei à falésia que dá para a praia. Resolvi estrear o cadeado que tinha comprado na 6ª feira. Estrear só para estrear porque não me afastei mais de 5 metros. Um cansaço, uma falta de ar, uns tremores nas pernas, um verdadeiro pesadelo. Eu bem me queria abstrair, olhando o mar, mas não me saía da cabeça que teria de fazer o percurso todo ao contrário para voltar para casa. Telefonar ao Carlos para que me fosse buscar estava fora de questão. Não estava com cabeça para ouvir na escola piadinhas de mau gosto durante 3 meses. Julgam que me sentei a descansar? Achammmmmmmm??????????? Nem pensar nisso! Ali estava eu: de pé! Pensei: se me sento é a minha morte. Já não me consigo levantar. Fazer depois o trajecto de 5 metros de volta até à bicicleta de gatas, estava completamente fora de questão. Apreciei a natureza durante 10 minutos. Senti-me o maior dos desportistas, com um ar absolutamente zen a olhar o mar e depois, com calma, voltei para a bike.
Avistei uma descidaaaaaaaaaaaaa enormeeeeeeeeeeee. E a velocidade a que eu fiz a descida? E o orgulho que eu sentia de mim próprio ao sentir-me a andar aquela velocidade toda??? Soube-me bem! Gostei! Entretanto começo a ouvir um barulho esquisito. A seguir, fiquei com a leve impressão que alguma coisa se estava a prender atrás… Pronto! A camisola que eu tinha à cintura estava toda enrolada na roda e eu estaria a andar assim desde há 500 Km. Nem sei o que aquilo parecia. Toda castanha (a cor original era azul petróleo), toda amassada, um caos… Mais à frente surgiu, do nada, uma subidona horrorosa e lá tive de transportar a bicicleta mais um bocadinho na mão, mas a coisa resolveu-se e eu, rapidamente, assumi de novo o controlo da situação, ao avistar uma nova descida…
Cheguei a casa, almocei e fui refazer de carro o trajecto que tinha feito de manhã para ver os Km. É certo que parece perto quando se vai de carro, é também certo que parece que estamos a mudar de distrito quando se faz o mesmo percurso de bicicleta. Ainda assim foram 10 Km. Fiquei com impressão, mas é só impressão, talvez possa estar enganado, não, de certeza que estou enganado, que não estarei em muito boa forma física. Não sei.
BEIJOS E ABRAÇOS