Há coisas que não compreendo. Quando uma relação acaba, para mim, acabou. Não levo o resto da vida a pensar que é uma chatice ter acabado, que a outra pessoa é que era, que agora nada faz sentido, etc. e tal. Aceito também que uma das pessoas possa ter ficado com mágoa da outra por razões que tiveram a ver com o final da relação. Afinal de contas, aceito perfeitamente que seja difícil verificar indiferença por parte de um gajo com quem se esteve, e que demonstrou estar-se nas tintas para o facto dela não saber se estava grávida do marido ou do amante. Não é leviandade dela, não se julgue, isso não. Mas se a relação terminou era só porque as pessoas envolvidas não estavam bem. Não era só o sexo, isso era de fugir (juro que tentei, fechei os olhos e tentei, e sei qual foi o erro mas não me apetece dizer agora), mas não era só. E é nisso que eu me foco. Relembro sempre os maus momentos, aquilo que me fez ter resolvido que sozinho estava melhor do que acompanhado. Não levo a chorar sobre o leite derramado. Para quê?
Claro que percebo que o ódio tome conta de uma das pessoas e que, possuída por isso, faça coisas sem sentido. Foi esta a forma que interpretei quando uma das minhas "ex" telefonou à minha namorada no ano passado a abrir-lhe os olhos. Foi mesmo “à filme”. Foi hilariante e motivo de chacota durante uns tempos. A mesma chacota que ela diz ter sido alvo na infância, por motivos que agora não interessam. Mas será possível que uma pessoa não tenha a noção do ridículo? Mas alguma vez alguém tem em conta aquilo que é dito por alguém que não se identifica ao telefone, mas que claramente se percebe pertencer a uma qualquer ex que ficou com o orgulho ferido? Mas o objectivo era que eu tivesse sido confrontado com aquilo que lhe foi dito? Ao contrário da minha namorada que andou morta de riso durante tempos sem fim, enquanto se lembrava e comentava aquilo com as amigas, eu fiquei com pena. Fiquei a pensar na forma de minimizar os efeitos devastadores que, sem saber porquê, provoquei naquela alma. Optei por não fazer nada, achei melhor. Alimentar o que não tinha que ser alimentado? Para dizer o quê? E porquê? O tempo encarrega-se de fazer com que a indiferença tome conta dela e que se esqueça de mim. Da mesma forma que eu, até à semana passada, nem me lembrava que ela ainda existia. Se era viva ou morta. Simplesmente esqueci-me. Não faço a mínima ideia se escreve no blog dela a meu respeito, se comenta ou deixa de comentar o que quer que seja com os amigos ou sequer se pensa que eu ainda existo. Simplesmente porque não me interessa. Se quisesse saber como ia, tinha forma de saber. Bastava querer. Mas para quê? Porquê? Faz algum sentido eu andar atrás, saber se é feliz ou infeliz, se continua casada ou se se divorciou, se arranjou outro amante ou não, se o marido descobriu as traições ou se continua a fingir que não sabe, se, se, se... Interessa-me? Mas porque perderia tempo com isso? Tenho coisas mais fúteis onde perder o meu tempo.
Quando eu já pensava que a cabeça enorme dela tinha finalmente ficado resolvida, eis que volta novamente à carga, comentando o blog da minha namorada. Um ano depois. Juro, UM ANO DEPOIS! Dizendo que eu sou isto, que sou aquilo, que sou mais não sei o quê, que ela devia fazer isto e mais isto e aqueloutro. Pode????
Claro que tem sempre a opção de continuar. A caixa de comentários da minha namorada estará aberta para que escreva as suas loucuras. Ela lê, reencaminha-me, eu leio, reencaminhamos para meio mundo, todos lemos, todos rimos e depois todos deletamos. Pelo menos há o consolo de ser lida, e bem lida. Sempre alivia. Achamos um piadão. Já agora, não querendo parecer abusado ou insensível, poderia também utilizar a minha caixa de comentários. Não gosto de discriminações. ;)
Mas ficará assim para sempre? Despeitada? Mas não há nenhum (a) colega psicólogo que lhe dê uma mão? Outra solução seria assumir na cabeça dela mesmo aquilo que diz sobre mim. Mas é mesmo assumir, sim? Não é dizer da boca para fora aquilo que ao fim e ao cabo não acha. Assim, não vale, é contraproducente. Basta consciencializar-se que estou velho, enrugado, que tenho os dentes tortos, burro (cérebro do tamanho de uma pulga, palavras dela, ou de um micróbio, palavras minhas), e mais um infindável rol de características más. São tantos os defeitos que eu tenho, é canja. Que se foque neles. Pelo menos assim pode ser que passe por cima e me torne, finalmente, indiferente. Que faça isso por ela. :)
B. e A.