Na Páscoa, ao passar de carro por um terreno, vi uma tabuleta que dizia: "casa em leilão". Como olhei e não vi casa nenhuma, parei o carro na berma e fui ver. Penso sempre que poderá ser uma coisa gira e baratíssima. Nunca é, mas eu gosto sempre de me certificar. Se há coisa que gosto de fazer é ver casas velhas que estão para a venda. Não posso é repetir muito as imobiliárias porque já me conhecem em quase todas. Voltando atrás, ando por ali e nada de casa, era só mesmo o terreno. De qualquer forma havia por ali coisas espalhadas. Carreguei para o carro duas mesas de ferro e deixei lá outra que não me cabia no carro e que estou na esperança de ainda a encontrar abandonada quando lá voltar (lá para o verão).
A mesa estava com ferrugem, pintada com tinta de spray em mau estado, mas não tinha tampo. Pensei que seria fácil arranjar um tampo redondo de madeira, com 60 cm de diâmetro e restaurá-la. Parece impossível mas já corri todas as carpintarias aqui de Portimão e estão todas fechadas. Depois de muito procurar indicaram-me uma em Monchique. Fui lá 2ª feira pedir que me cortassem um tampo de madeira. Pedi o preço e como o patrão não estava, não me podiam informar. Avisei que não fizessem nada enquanto eu não soubesse o preço. Ficaram-me de telefonar ainda nesse dia (eu disse que tinha urgência, tenho sempre para estas coisas). Nada. 3ª feira fui lá outra vez. Estava o patrão que me atendeu. Expliquei que queria um tampo de madeira qualquer, do mais barato que houvesse, que podia ser aproveitado de qualquer resto de madeira que por lá tivessem, que não fazia questão daquilo ser muito perfeitinho (mais barato pensei eu). Às tantas eu já dizia que queria qualquer coisa que fosse barata, quase de borla. O homem achou piada e em vez de me dizer a porcaria do preço, resolveu mostrar-me a carpintaria toda, as fotos dos filhos, contou que era separado e que agora tinha uma namorada que era professora, mostrou-me coisas que tinha feito em madeira e que não eram para vender, falou-me dos pedidos de clientes que vinham de fora especialmente para ter com ele porque ele conseguia resolver tudo. Enfim, levou 45 minutos a dar-me seca. Até nozes me ofereceu. Comi tudo mas depois lá voltei a perguntar, pela milésima vez, por quanto me fazia o cabrão do tampo para a mesa velha. Não podia dizer. Porque isso dependia de muita coisa.
Eu: Olhe Sr Justino, eu tenho mesmo de me ir embora porque vou ter uma aula daqui a 10 minutos (mentira porque eu queria era voltar para casa) por isso gostava mesmo que me dissesse o preço.
Sr Justino: Eu telefono a dizer mas já sei que quer uma coisa barata.
Eu (corrigindo o Sr Justino): Não Sr Justino, eu não quero uma coisa barata, eu quero uma coisa baratíssima, quase dada, está a perceber?
Sr Justino (rindo): Fique descansado que eu lhe digo qualquer coisa.
Eu: HOJE, não é amanhã, está bem?
Sr Justino: Fique descansado.
Já se passaram três dias. TRÊS! Será possível que não consigo arranjar quem me faça um tampo? Eu já coloco a hipótese de serrar uma porta cá de casa para resolver o problema.
B. e A.